Muito se fala em vida saudável nos dias de hoje, mas poucos sabem do que se trata realmente ter uma vida assim. Praticar, então, essa tal vida saudável, fica mais difícil ainda!
Há muita informação no mídia, internet, jornais, entretanto muitas são as dúvidas...
Este espaço foi criado para divulgação de informações sobre tópicos relacionados a saúde, atividade física, dietas e assuntos afins, com um foco especial na área da Endocrinologia, na qual atuo.
Aproveitem!!!

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Menopausa e terapia de reposição: fazer ou não fazer, eis a questão.




O estudo WHI (Women’s Health Initiative), que provocou um verdadeiro “rebuliço” na vida das mulheres em terapia de reposição hormonal (TRH) ou daquelas que pretendiam faze-la, completa 10 anos. Nesse tempo muitas lições foram apreendidas. Acho ser essa uma boa hora para rever alguns conceitos e preconceitos sobre esse assunto.

            Muitas mulheres sofrem com o climatério, período de mudanças hormonais na mulher que causa diversos sintomas, e que engloba a menopausa, que determina o final da vida reprodutiva da mulher.  Período muito conturbado e que traz, nos próximos anos, mudanças em praticamente todos os sistemas e aparelhos. Alem disso,  aumenta o risco de doenças sérias como OSTEOPOROSE, INFARTO e, até mesmo, CÂNCER DE MAMA. Opa! Espere um momento. Vamos rever os fatos: CANCER ? Alguns podem se perguntar como a menopausa pode aumentar o risco de câncer se o próprio estudo WHI foi INTERROMPIDO pelo AUMENTO da incidência de câncer de mama nas mulheres em reposição hormonal. De forma resumida, o estudo WHI comparou as incidências de doenças cardiovasculares, câncer (CA) e osteoporose grosso nas mulheres em TRH, em relação a outras mulheres em menopausa sem TRH. Uma das hipóteses era que a TRH reduziria a progressão de eventos cardiovasculares sem alterar a chance de desenvolver câncer “estimulado” pelos hormônios, com câncer de mama ou endométrio. O grupo de mulheres usando estrogênio + progesterona (que é necessária para mulheres que tem útero, não são histerectomizadas) interrompeu o tratamento pelo significativo aumento do número de câncer de mama. Isso, divulgado no Jornal Nacional (Rede Globo), provocou um verdadeiro “desespero” entre as mulheres em TRH e em alguns médicos. O que sabemos hoje é que isso parece ser verdade por causa do TIPO de progesterona usada no estudo: medroxiprogesterona, que aumenta, sim, o risco de CA mama. Acontece que este tipo de progesterona não é o mais utilizado atualmente nem tampouco na dose (alta, aproximadamente 6x superior a que hoje é utilizada) que foi a do estudo. Analises posteriores mostraram que com a divulgação do WHI a prescrição de TRH diminuiu em 50% nos EUA. A incidência de câncer de mama (que deveria diminuir se a causa fosse a TRH), entretanto, AUMENTOU nos anos subsequentes, sugerindo que a TRH não teria tanta influencia assim. Além disso, nas mulheres que participaram do grupo repondo apenas com ESTROGENIO, a TRH protegeu contra o CA de mama! Numa revisão sobre TRH publicada neste ano na revista Climateric, especializada em publicações cientificas em climatério, há dados que mostram que a reposição de estrogênio por via trasdérmica (mas não a via oral, utilizada no estudo WHI) reduz incidência de CA de mama e de doenças cardiovasculares (Infarto e acidente vascular cerebral, conhecido popularmente como “isquemia ou derrame cerebral”).
            Outro fato interessante é que a população das mulheres incluídas neste estudo tinham idade média de 63 anos , sendo que 2/3 da amostra iniciou a TRH após 60 anos. Muitas já em menopausa há 10 anos. Atualmente, sabe-se que após a menopausa, principalmente nas mulheres com fatores de risco para doença ateroesclerótica (aquelas que fumam, tem colesterol alto, sedentárias, obesas, diabéticas, ou com historia familiar de infarto/AVC) o processo de formação de placas de gordura é ACELERADO. Quando a placa de gordura esta formada, e alimentada pela gordura do sangue, alguns anos apos a menopausa, o inicio d uso dos hormônios da reposição (principalmente o estrogênio) podem precipitar o rompimento deste placa de gordura, e causar um infarto.
Resumindo as críticas sobre o estudo WHI:
1)    Progesterona usada foi SINTETICA (e não a “natural”, progesterona micronizada, igual a produzida por nós).
2)     Alta dose, aproximadamente 6x maior que a utilizada atualmente.
3)    Estrogênio foi dado por via oral, que sofre efeitos ao passar pelo fígado, podendo causar danos hepáticos e alterando a produção de colesterol e triglicerídeos. Preferimos atualmente a via de administração trascutânea (gel ou adesivo).
4)    Estrogênio utilizado foi conjugado, sintético, sendo hoje utilizado o estrogênio análogo ao nosso, mais “natural”.
5)    Mulheres incluídas já tinham muito tempo de menopausa, algumas mais de 10 anos. Já tinha doença coronariana ESTABELECIDA, não sendo a TRH útil para PREVENIR a evolução deste doença que já estava em curso.

Então, vale ou não vale a pena repor hormônios nas mulheres menopausadas? Depende!! Mulheres no primeiros 5 anos pós menopausa estão “na janela de oportunidade” para fazer a reposição e tem SIM muitos benefícios. Enumerando os benefícios:
1)    manutenção do tônus muscular, diminuindo a substituição que ocorre com a idade, de gordura entremeada nos músculos
2)    Diminui a perda de massa muscular e força que ocorre com o envelhecimento
3)    Prolonga a “vida sexual ativa” com mais qualidade- libido, lubrificação vaginal, etc.
4)    Previne osteoporose
5)    Previne doença cardiovascular
6) Previne perda de memória e alguns tipos de demência.
Por quanto tempo? Enquanto houver beneficio, quiçá para sempre!

É claro que todo tratamento deve ser julgado individualmente e respeitando as necessidade e peculiaridades de cada um, mas são muito os benefícios, quando não ha contraindicações!
Envelhecer com qualidade: acho que é isso que buscamos!!!

Aprofundamento: 
Site: www.feminina.org.br/V Simpósio de Atualização em terapia hormonal na menopausa para endocrinologistas” Aulas em PDF

Climacteric. 2012 Apr;15 Suppl 1 Review.