O estudo WHI (Women’s Health Initiative), que provocou um verdadeiro “rebuliço” na vida das mulheres em terapia de reposição hormonal (TRH) ou daquelas que pretendiam faze-la, completa 10 anos. Nesse tempo muitas lições foram apreendidas. Acho ser essa uma boa hora para rever alguns conceitos e preconceitos sobre esse assunto.
Muitas mulheres sofrem com o
climatério, período de mudanças hormonais na mulher que causa diversos
sintomas, e que engloba a menopausa, que determina o final da vida reprodutiva
da mulher. Período muito conturbado e
que traz, nos próximos anos, mudanças em praticamente todos os sistemas e
aparelhos. Alem disso, aumenta o risco de
doenças sérias como OSTEOPOROSE, INFARTO e, até mesmo, CÂNCER DE MAMA. Opa! Espere
um momento. Vamos rever os fatos: CANCER ? Alguns podem se perguntar como a
menopausa pode aumentar o risco de câncer se o próprio estudo WHI foi
INTERROMPIDO pelo AUMENTO da incidência de câncer de mama nas mulheres em
reposição hormonal. De forma resumida, o estudo WHI comparou as incidências de
doenças cardiovasculares, câncer (CA) e osteoporose grosso nas mulheres em TRH,
em relação a outras mulheres em menopausa sem TRH. Uma das hipóteses era que a
TRH reduziria a progressão de eventos cardiovasculares sem alterar a chance de
desenvolver câncer “estimulado” pelos hormônios, com câncer de mama ou
endométrio. O grupo de mulheres usando estrogênio + progesterona (que é
necessária para mulheres que tem útero, não são histerectomizadas) interrompeu
o tratamento pelo significativo aumento do número de câncer de mama. Isso,
divulgado no Jornal Nacional (Rede Globo), provocou um verdadeiro “desespero”
entre as mulheres em TRH e em alguns médicos. O que sabemos hoje é que isso
parece ser verdade por causa do TIPO de progesterona usada no estudo:
medroxiprogesterona, que aumenta, sim, o risco de CA mama. Acontece que este
tipo de progesterona não é o mais
utilizado atualmente nem tampouco na dose (alta, aproximadamente 6x superior a
que hoje é utilizada) que foi a do estudo. Analises posteriores mostraram que
com a divulgação do WHI a prescrição de TRH diminuiu em 50% nos EUA. A
incidência de câncer de mama (que deveria diminuir se a causa fosse a TRH),
entretanto, AUMENTOU nos anos subsequentes, sugerindo que a TRH não teria tanta
influencia assim. Além disso, nas mulheres que participaram do grupo repondo
apenas com ESTROGENIO, a TRH protegeu contra o CA de mama! Numa revisão sobre
TRH publicada neste ano na revista Climateric,
especializada em publicações cientificas em climatério, há dados que mostram
que a reposição de estrogênio por via trasdérmica (mas não a via oral,
utilizada no estudo WHI) reduz incidência de CA de mama e de doenças
cardiovasculares (Infarto e acidente vascular cerebral, conhecido popularmente
como “isquemia ou derrame cerebral”).
Outro fato interessante é que a
população das mulheres incluídas neste estudo tinham idade média de 63 anos ,
sendo que 2/3 da amostra iniciou a TRH após 60 anos. Muitas já em menopausa há
10 anos. Atualmente, sabe-se que após a menopausa, principalmente nas mulheres
com fatores de risco para doença ateroesclerótica (aquelas que fumam, tem
colesterol alto, sedentárias, obesas, diabéticas, ou com historia familiar de
infarto/AVC) o processo de formação de placas de gordura é ACELERADO. Quando a
placa de gordura esta formada, e alimentada pela gordura do sangue, alguns anos
apos a menopausa, o inicio d uso dos hormônios da reposição (principalmente o
estrogênio) podem precipitar o rompimento deste placa de gordura, e causar um
infarto.
Resumindo as
críticas sobre o estudo WHI:
1)
Progesterona
usada foi SINTETICA (e não a “natural”, progesterona micronizada, igual a
produzida por nós).
2)
Alta dose, aproximadamente 6x maior que a
utilizada atualmente.
3)
Estrogênio
foi dado por via oral, que sofre efeitos ao passar pelo fígado, podendo causar
danos hepáticos e alterando a produção de colesterol e triglicerídeos.
Preferimos atualmente a via de administração trascutânea (gel ou adesivo).
4)
Estrogênio
utilizado foi conjugado, sintético, sendo hoje utilizado o estrogênio análogo
ao nosso, mais “natural”.
5)
Mulheres
incluídas já tinham muito tempo de menopausa, algumas mais de 10 anos. Já tinha
doença coronariana ESTABELECIDA, não sendo a TRH útil para PREVENIR a evolução
deste doença que já estava em curso.
Então, vale ou
não vale a pena repor hormônios nas mulheres menopausadas? Depende!! Mulheres
no primeiros 5 anos pós menopausa estão “na janela de oportunidade” para fazer
a reposição e tem SIM muitos benefícios. Enumerando os benefícios:
1)
manutenção
do tônus muscular, diminuindo a substituição que ocorre com a idade, de gordura
entremeada nos músculos
2)
Diminui
a perda de massa muscular e força que ocorre com o envelhecimento
3)
Prolonga
a “vida sexual ativa” com mais qualidade- libido, lubrificação vaginal, etc.
4)
Previne
osteoporose
5)
Previne
doença cardiovascular
6) Previne perda de memória e alguns tipos de demência.
6) Previne perda de memória e alguns tipos de demência.
Por quanto
tempo? Enquanto houver beneficio, quiçá para sempre!
É claro que todo tratamento deve ser
julgado individualmente e respeitando as necessidade e peculiaridades de cada
um, mas são muito os benefícios, quando não ha contraindicações!
Envelhecer com qualidade: acho que é isso
que buscamos!!!
Aprofundamento:
Site: www.feminina.org.br/ “V Simpósio de Atualização em terapia
hormonal na menopausa para endocrinologistas” Aulas em PDF
Climacteric. 2012 Apr;15 Suppl 1 Review.