Muito se fala em vida saudável nos dias de hoje, mas poucos sabem do que se trata realmente ter uma vida assim. Praticar, então, essa tal vida saudável, fica mais difícil ainda!
Há muita informação no mídia, internet, jornais, entretanto muitas são as dúvidas...
Este espaço foi criado para divulgação de informações sobre tópicos relacionados a saúde, atividade física, dietas e assuntos afins, com um foco especial na área da Endocrinologia, na qual atuo.
Aproveitem!!!

domingo, 29 de julho de 2012

Obesidade, Infertilidade e Contracepção. Parte 1, opinião do Fisiologista.


        A  vida moderna, corrida, dinâmica e instável, impõe cada vez mais estresse  e dilemas à mulher. Talvez não somente à mulher, mas ao homem também, que se vê inseguro e sem saber mais seu papel ao lado dessa mulher moderna neurótica e frenética.  Cada vez mais, nós mulheres modernas, “empurramos” o desejo de ser mãe para mais tarde. Com isso, vamos vendo ao longo do caminho amigas, parentes ou conhecidas que não conseguem engravidar ou levam anos tentando...e terminam na “corrida maluca” para fazer tratamentos, como a fertilização in vitro. 
      Muitos são os fatores que influenciam na fertilidade. Fatores femininos e masculinos. O estresse, fumo, toxinas alimentares, são alguns dos fatores que diminuem a espermatogênese (produção de espermatozoides) masculina, por exemplo. Na mulher, além desse fatores gostaria de apontar para a OBESIDADE. Você pode estar achando que estou “puxando a brasa para minha sardinha”, mas a OBESIDADE por muito tempo foi um fator desconhecido de infertilidade e ainda é muito negligenciado. Na edição deste mês da revista da The Endocrine Society (Sociedade Americana de Endocrinologia) a matéria principal foi sobre “Obesidade, infertilidade e contracepção”. Achei muito interessante e resolvi dividir com vocês esse conhecimento. Vou dividir o post em três partes: Infertilidade, na parte 1, opinião do Fisiologista, na 2, opinião do Endocrinologista Clínico, e Contracepção, na parte 3.

A matéria da revista abriu meus olhos para alguns aspectos que simplesmente desconhecia, e me deixaram encantada (talvez abobalhada!). A fertilidade e as anormalidades na ovulação têm relação clara com ESTADO NUTRICIONAL. A desnutrição, o baixo peso e a pratica de atividade física extenuante influenciam o eixo que controla a ovulação (Eixo-hipotálamo-hipofisário) inibindo esta.  Isso ocorre como um mecanismo de defesa do organismo, afinal “se não tem energia nem pra manter um corpo em pé, que dirá gerar um segundo.” Neste contexto, moléculas de sinalização presentes no cérebro, no hipotálamo, diminuem: kisspeptina, leptina, galanina e Neuropeptideo Y (para nomear para aqueles da área de saúde). Essas proteínas são sinalizadores FUNDAMENTAIS para produção das Gonadotrofinas (que comandam a ovulação). Curioso é que pesquisadores encontraram semelhante diminuição dessas proteínas no cérebro das mulheres obesas, que desenvolvem o que chamamos de “hipogonadismo hipogonadotrofico”, ou seja, de forma semelhantes as desnutridas, as obesas diminuem a sinalização de “ovular” e se preparar para gestar.
            E é só isso? Não, tem mais! O ovócito secundário (vulgo “óvulo”) da mulher obesa parece ter uma qualidade pior para prosseguir na formação do embrião. É esse ovócito quem “doa” as mitocôndrias que irão ser a usina geradora de energia para o ovo fertilizado, e o futuro embrião, se desenvolverem e implantarem no útero eficientemente. Em experimentos com ratas obesas, estas mitocôndrias exibem metabolismo anormal, DNA alterado e uma distribuição no ovulo alterada. Quando essas ratas obesas permanecem submetidas a dieta rica em gordura, seus ovócitos são menores e o sucesso da fertilização in vitro (FIV, conhecido popularmente como “bebe de proveta”).
            A implantação do embrião no útero, que garante a formação adequada da placenta e o sucesso da gestação parece ser dificultada pela obesidade, provavelmente pela produção de proteínas inflamatórias que criam um ambiente uterino inóspito para o embrião.
            Para completar, fiquei pasma com o achado em estudos com animais, que o isolamento social também leva a infertilidade e significativo aumento de Câncer de Mama!! Os pesquisadores isolaram por 14 semanas um grupo de camundongos fêmeas, antes de entrarem na puberdade (pré-púberes), em gaiolas individuais enquanto deixaram em uma gaiola agrupadas 5 de suas “irmãs”.  Os camundongos que ficaram isolados tiveram maior incidência de câncer de mama e os tumores eram maiores e mais agressivos. O ciclo hormonal dos camundongos e de moléculas de sinalização cerebrais e nos tecidos periféricos. Os experimentos sugerem que não só a obesidade, mas também o estresse e o isolamento social podem ser importantes no processo de infertilidade e de tumorgênese.
            A infertilidade associada a obesidade e a irregularidade menstrual sempre foram muito associada a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Sempre atendi mulheres obesas que se queixavam de irregularidade menstrual mas não preenchiam os critérios de SOP. Muitas vezes, essas mulheres foram “taxadas” como tendo SOP e vinham sendo tratados com anticoncepcionais ou metformina (remédio para diminuir a glicose) incorretamente. Ficava me questionando o que tinham essas mulheres obesas. Agora estou feliz! Feliz em saber!!! Não tem jeito, no final tudo recai sobre perder peso e adquirir hábitos mais saudáveis. Nós profissionais de saúde temos o dever de insistir nessa tecla. E vocês, em quem a carapuça servir, em acreditar que é possível e que há uma luz no fim do túnel!
        Este foi o artigo da opinião do “fisiologista” (pesquisador, que estuda a parte molecular de como o organismo funciona). Na próxima postagem, vou abordar a opinião do “Endocrinologista clínico”. Até breve!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Meia-maratona: sonho, planejamento, treinamento, conquista. Lições de vida.



            Neste domingo completei minha primeira MEIA MARATONA (21 km correndo, sem parar, da Barra da Tijuca ao Aterro do Flamengo). Resolvi escrever sobre essa experiência pois o “processo” de correr uma Meia Maratona em muito se assemelha com qualquer outro processo de “conquista de um objetivo”, de “realização de um sonho”.
            Há alguns anos, desde que um amigo correu a meia maratona, tenho vontade de correr a MEIA MARATONA DO RIO DE JANEIRO. Para começar, porque o cenário é lindo, passando por toda orla do Rio de Janeiro, da Barra da Tijuca ao Aterro do Flamengo. O clima é de vibração e empolgação de uma plateia de desconhecidos, que te impulsionam e estimulam, como se fossem da sua família. Até ai, tudo não passava de um sonho distante, bem distante. Mais do que distante, achava IMPOSSIVEL. Treze anos se passaram até que retomasse esse propósito e ACREDITASSE. Após acreditar, parti para o PLANEJAMENTO.  Elaboramos um plano e tentei segui-lo o mais fielmente possível. É claro que “escorreguei” e em alguns momentos não segui 100% o plano, mas me esforcei ao máximo. Se o plano era treinar todos os dias, correr horas e horas? Não! Era um plano BEM REALISTA, baseado na minha vida, no meu trabalho, na minha rotina. Tinha que correr 3x na semana sendo que em dois dias treinava em torno de 45 min- 1h e aos domingos fazia um treino mais longo. Em 5 meses progredi de 7km, no treino longo, até 16km. Era para ter ido até 18km, porém tirei férias, sim FERIAS, e depois adoeci, o que atrasou meu treinamento.  Neste momento, tive dúvida se conseguiria atingir o meu objetivo, afinal nunca tinha corrido nem os 18km planejados, imagine 21km!  ACREDITEI!
            Ao longo dos meses de treinamento, com a progressão dos treinos longos, tive dificuldade em acordar cedo no final de semana, afinal acordo cedo TODOS os dias! Treinei a noite, treinei as 11h da manhã , me arrependi de ir correr tão tarde, com sol e calor. Pensei em desistir quando eram programados 14km e ainda estava em 7km, super cansada. Todo esse processo me fez crescer muito. Durante a corrida, as vezes sentia dor, no joelho, nos dedinhos, cólica abdominal. Nestes momentos, falava para mim mesma: “Não desista, você é FORTE. VAMOS LA!! Força!”,“Falta pouco”, “já foram 10, agora, só mais 4km!”. Num determinado momento, você acredita. Acredita nisso pra corrida, mas leva isso para sua vida também. A mensagem fica gravada. O orgulho, estampado no rosto e no coração. A mensagem gruda na sua cabeça. Essa força, essa segurança, é uma herança para outros momentos da vida: para carreira, para o mestrado, para uma prova, para mudar o corpo, para emagrecer... Aprendi muito treinando para corrida!
            Chegou o grande dia. Como em toda “estreia”, o nervosismo imperava. Ansiedade, dificuldade para dormir a noite.  Acordei as 4:40h da manhã, 1 minuto antes do despertador. E o sono? Foi embora! Nada de sono. Apenas uma vontade enorme de conquistar aquilo para que tinha me preparado por 5 meses, ou melhor, por 13 anos. Dada a largada, muitos partem afoitos, rápidos. Tive calma, segurei o passo, ajustei a musica. Afinal precisava de um repertório que durasse pelo menos 2h e 30 min! Mantive o passo. Curti a vista. Subi a Niemayer. Tive cólica. Fomos perseguidos por um Rottweiler, que pulou o portão de uma casa e correu, no meio da multidão, raivoso, em busca de uma presa canina, que acompanhava seu dono na maratona. Fugi do Rottweiler. Curti a vista. Peguei chuva, fraca, depois muito forte, depois com vento, depois só forte. Falei comigo mesma que conseguiria. Me emocionei pensando na chegada. Passei pelos 16 km, 17, 18, acreditei. Me senti forte. Acelerei o passo, estiquei as costas. Corri mais rápido. 19, 20, corri mais rápido e mais empinada. 21km. Vi a chegada. Corri mais rápido. Venci! Chorei, chorei. Fiquei muito feliz. Senti meus joelhos, minhas coxas. Andei, feliz e orgulhosa. Pensei na minha família, na minha mãe, no meu marido. Agradeci ao meu treinador pela força e por ter me feito ACREDITAR. Agradeci pelo planejamento. Por ter me estimulado. Sim, eu poderia completar a maratona. Mesmo sendo uma médica atarefada, mesmo dando plantões, mesmo tendo que arrumar tempo para correr, fazer compras pra casa, fazer comida, dar atenção a família, estudar. Mesmo tirando férias. Mesmo terminando o mestrado. Sim, eu ACREDITEI, me PLANEJEI, VENCI os obstáculos. ATINGI O MEU OBJETIVO. As lições apreendidas ultrapassam a corrida em si. Foram lições de vida, de perseverança, de planejamento, de adaptação, de paciência, que serão levadas pra minha vida. Muito feliz. Muito realizada. Inscrita na próxima! 


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Chia: essa sementinha está na moda. Mito ou verdade?


Há uns 6 meses tenho escutado falar nesta sementinha chamada CHIA. Escutei primeiramente de uma Cardiologista amiga minha, que está usando juntamente com seus pais. Logo em seguida, dois pacientes se consultaram comigo, ambos mantendo os mesmos remédios, mas com o colesterol muito melhor. Minha madrinha, recentemente comentou que está usando a CHIA e revela que fica mais tempo satisfeita após o uso da Chia no café da manhã. Resolvi então, curiosa que sou, estudar (sugestão: investigar)um pouquinho sobre essa sementinha da moda.
A semente da CHIA é rica em ácidos graxos dentre os quais o alfa-linoleico (ômega 3). Quando hidratada (por ser misturada em iogurte, sucos ou frutas, por exemplo) assume uma consistência gelatinosa que ajudaria a “saciar” o apetite, diminuindo a fome, e lentificar a absorção de açúcares. Além disso,  teria propriedade de diminuir o colesterol ruim e aumentar o bom. Tem fibras que ajudariam no trânsito intestinal, contribuindo para regularização do intestino. O potencial dessa sementinha é enorme.
Buscando artigos científicos sobre a chia pude constatar que a grande maioria dos artigos que veem grandes benefícios são feitos em ratos ou camundongos. Só achei um único artigo em humanos! Neste artigo, os pesquisadores trataram homens e mulheres obesas, entre 20 e 70 anos, com 25g de semente de CHIA ou placebo, administrados 2x ao dia (total de 50g de CHIA por dia). Avaliaram parâmetros do metabolismo, peso, pressão arterial, glicose, gorduras no sangue (colesterol e triglicerídeos), substâncias inflamatórias dosáveis no sangue (que predispõe ao diabetes, câncer e doença cardíaca, dentre outras), antes e após 12 semanas de estudo. Ao final do estudo concluíram que não houve diferença entre os grupos que usaram CHIA ou placebo. É claro que é apenas um único estudo, com apenas 76 pessoas (geralmente são necessárias mais pessoas para uma conclusão definitiva). Talvez a dose utilizada da CHIA tenha sido pouca, insuficiente para mostrar sua “potência benéfica”. Enfim, muito ainda há que se aprender. Fato certo é que muitos sites e lojas de produtos alimentícios e remédios fazem propaganda SEM embasamento científico. Chegam a conclusões precipitadas e propagandeiam como se fosse uma verdade absoluta.
O que eu acho? Pessoalmente, usaria a semente. Tem grande potencial teórico para funcionar. Não prescreveria, pois não posso me comprometer com meus pacientes indicando algo sem evidência científica. Trabalho com o que há de mais correto em relação a grau de evidência. Mesmo assim, vira e mexe somos surpreendidos por novos efeitos colaterais de antigas drogas! A vida é um bem muito valioso para “brincarmos” com ela. Muito melhor é VIVÊ-LA!! Também não aconselho ninguém a “suspender os remédios do colesterol” apenas para usar CHIA. Muito temos que aprender sobre essa sementinha ainda!